sexta-feira, outubro 24, 2008

Sistema da reciprocidade

Às vezes ainda me surpreendo com as pessoas. Eu já devia estar cascuda, ciente de que as pessoas sempre são capazes de surpreender-nos (positiva ou negativamente) e que, por mais tempo de convívio que possa existir, a gente nunca conhece alguém suficientemente bem. Nem a nós mesmos, eu acho. Mas aí são outros quinhentos. O cerne da questão é que eu não entendo como existem pessoas que ainda vivem sob um regime ditatorial de "eu te desejo o que você deseja pra mim". Resumindo, algo na base de um sistema de reciprocidade, onde uma atitude depende da atitude de terceiros. Ação e reação.


Provavelmente essa é mais uma característica da minha personalidade bobona e sonhadora, mas eu sempre achei que as pessoas devessem "fazer o bem sem olhar a quem". Agir sem o intuito do retorno, agir por instinto; até por intuição, que seja. Mas agir bem, indiscriminadamente, independentemente do que há de receber em troca da atitude. Sempre achei que não havia mérito nenhum em agir de maneira louvável, porém esperando algo em troca. Mérito há quando a atitude é independente de retorno.


Por quê raios essa história? Hoje estava fazendo audiências numa comarca mega-distante. O dia inteirinho, de 10 horas da manhã até às 17 horas da tarde. Muito, mas muuuuito irritada de ter ido para tão longe debaixo de um sol escaldante. Estava esperando uma das audiências quando chega uma senhora, com uma sacola numa mão e, na outra, com uma senhora ainda mais velhinha. Disse que estava lá para entregar um enxoval de bebê para uma senhora que trabalhava no Fórum que conhecia uma menina que ia ter bebê naquele dia, mas, como pensava em abortar, não havia feito enxoval e nem tinha dinheiro para tal.


Conversamos mais: Ela me contou que a senhora velhinha que estava com ela era a mãe dela, de 92 anos e que estava debilitada porque trabalhava muito fazendo roupinhas de bebê e esquecia de se alimentar (!!!). Mas que tinha saúde de ferro, melhor do que a minha: Colesterol, glicose, nenhum problema ósseo. Contou que teve um problema com um banco, processou, ganhou um dinheiro e comprou um carro, o que a ajuda a carregar a mãe pra cima e pra baixo. Contou que não faz parte de ONG nenhuma, que fica sabendo de pessoas que precisam de ajuda, vai lá e ajuda. Simples assim.


A senhora não age pensando no retorno, mas é iluminada até dizer chega. Tem tudo o que precisa e faz o que por bem lhe parece. Fiquei encantada com ela. É o tipo de pessoa que eu gostaria de ter presente na minha vida. Acabei, é claro, ajudando não só a senhora como a mãe que ia ter bebê naquele dia: Comprei alguns pacotes de fraldas numa farmácia perto do Fórum e algumas roupinhas de bebê numa lojinha perto também, para a senhora poder montar outros enxovais. E prometi enviar tecido para ela fazer mantas, que ela disse que adora fazer.


É assim que foi e é assim que a vida deveria ser. Sempre.


Em tempo: Estou (finalmente) satisfeitíssima com minha condição de "mulher solteira". Não sei bem porquê, mas um dia desses me deu um estalo e eu vi que a coisa podia ser muito boa para mim. E, cá entre nós (chega perto que vou contar um segredo), já está sendo...

7 comentários:

Nat Valarini disse...

Boa noite!

É a minha primeira visita em sua págima, mas já gstei bastante.

Achei muito legal essa postagem, pois eu acho que hoje, as pessoas andam muito egoístas como se fossem sozinhas no mundo.

Sei que não dá para viver em fução dos outros, mas olhar um pouco para o lado não mata ninguém. Acho que exemplos como esses devem ser divulgados.

Vou divulgar seu blog.

Bjoks e sucesso!

http://garotapendurada.blogspot.com/

Anônimo disse...

Essa relação de reciprocidade... fazer algo, esperando receber algo em troca, infelizmente, é comum nos dias de hoje em que as pessoas estão mais interessadas em ver o seu lado!

Unknown disse...

Ser solteira é oq há...=)
Nós mulheres não precismamos de homens pra sermos felizes... Se bem q se for um gato, aí não ligo...hehe...

Passa lá no meu blog tb:
http://blogdapattyandrea.blogspot.com

Unknown disse...

Gosatei da boa ação

www.blogdorubinho.cjb.net

Michel Domenech disse...

Existe um provérbio bem interessante que fala acerca da não necessidade dessa reprocidade que tu falasse, pena que não me lembro como é, se encontrar eu te mostro ele, outra coisa infundada é a gente deixar o mau hunmor dos outros ser contagiante.

Unknown disse...

Muito bom o blog ^^!!

http://blog-do-vandeco.blogspot.com/

sacodefilo disse...

É... acho que grandes mudanças são feitas com pequenas atitudes. E você teve uma percepção de algo que já me ocorreu: nos cantinhos do cotidiano se escondem coisas que nos dão um pouco de orgulho de ser humano... porque, no geral, o nos dá com mais freqüência, é vergonha..

bela história.