domingo, março 28, 2010

O poema da maçã.

Eu já achei que tudo é poesia. Drummond escreveu que "há uma pedra no meio no caminho", provando que até pedra é poesia.

Argumentando isso, há muito tempo atrás, amigos meus desafiaram-me a escrever um poema sobre algo que, aparentemente, não tinha nada de poético: Maçã. Logo eu, que ODEIO maçã.

Encontrei o "poema da maçã" perdido aqui. Ele me lembra uma época divina. Inclusive porque, naquela época, eu ainda conseguia ver poesia em tudo.



"Considerações sobre um tema único (inútil e concreto)

Ah, esse fruto do pecado
Para mim, és fruto proibido com todo prazer
Antes eu não tivesse experimentado
Mas se assim fosse, não teria o q escrever

Insípida fruta, tão sem-graça
De um vermelho-vivo tão atraente
Foste de Adão e Eva a desgraça
Enojam-me os vermes que comem tua semente!

Se fosse mesmo tão gostosa
Não seria pivô do pecado original
Nem imagem de coisa pecaminosa

Para mim, degustar-lhe é sacal
Nunca te achei mesmo saborosa,
Maçã, sua fruta sem sal!"



É isso.

=)

domingo, março 14, 2010

A pedra.

Eu vivo dizendo isso, mas repetirei: Se esse lance de reencarnação realmente existir, na próxima vida eu quero vir pedra. Não, não é brincadeira. É impressionante como as pessoas geralmente acham que eu estou brincando exatamente quando estou falando mais sério. Eu quero ser uma pedra na próxima vida.


Pedras podem ser esmagadas, quebradas, arremessadas e não sentirão dor, não terão cicatrizes, não sairão machucadas. Nem traumatizadas elas ficam. Elas continuam sendo pedras.


Pedras não trabalham aos finais de semana. Na verdade, pedras não trabalham. As pedras são pedras, ficam o tempo todo paradonas, vivendo sua vida de pedra na maior tranquilidade.


Pedras não tem ex-namorado que, não obstante ter tido um relacionamento bacana de "amizade" pós-término e sem motivo aparente, resolve que "não quer mais vínculo nenhum". Pedra não tem que ficar pensando no motivo para o surto do ex simplesmente porque pedra não tem ex.


Aliás, eu já parto da premissa de ter uma característica da pedra: A pedra é assexuada e eu estou me tornando tão assexuada quanto ela. Pedra não se reproduz, pedra não se preocupa de parecer promiscua, pedra não tem aquela vontade irascível de sexo: Pedra simplesmente não liga pra ser assexuada.


Pedra não precisa tomar decisões. Não precisa refletir sobre qual caminho tomar e sobre as consequências dos seus atos. Pedras não fazem escolhas, pedras não perdem noite de sono pensando no que fazer. Pedras não se preocupam consigo nem com outras pedras, simplesmente porque não se preocupam com nada.


Pedras não sentem calor, não têm rinite alérgica, não se preocupam em perder peso, não têm contas a pagar, não ficam doentes, não precisam fazer social, não ligam para dinheiro, não ficam menstruadas. A situação financeira, os escândalos políticos, o desenvolvimento mundial e nem o Big Brother Brasil afetam a vida da pedra.


Pedras estão no meio do caminho, no meio do caminho estão as pedras. Se elas estão no meio do caminho, já estão melhores do que eu, que estou no início sem saber o que fazer.


Ah, como eu queria ser uma pedra...

quinta-feira, março 11, 2010

Errar é humano

É impressionante o bem que me faz escrever. Mais do que falar. Sempre fui ótima com palavras escritas. Parece que sinto uma pedra rolando das minhas costas para o chão. E tudo fica mais leve.


Então, gente. Exceto por uns sinaizinhos de gripe que me acometem nesse exato momento e por muito cansaço (diretamente proporcional a quantidade de trabalho que ando tendo), estou bem, obrigada. =)


Senti-me também muito aliviada por ter pedido desculpas a alguém que acreditei ter magoado. Às vezes sou grosseira, pareço um caminhão passando e esmagando o que estiver pela frente, Outras vezes, pareço fria como uma estátua de mármore. Sou impulsiva, precipitada, e muitas vezes falo mais do que devia. E muito mais do que eu queria. Na maioria das vezes, acabo atropelando alguém com palavras.


É impressionante o poder da palavra. Hitler dizia "dividir para conquistar". O poder que a palavra tem de desagregar é absurdo. Penso que todos deveriam ter muito cuidado com as palavras que exprimem. Mas sabe aquilo de "faça o que eu digo, não faça o que eu faço"? Pois é. Eu digo que as pessoas tem que cuidar das palavras que proferem, mas eu mesma sou aquela que vou falando, falando e quando percebo, falei o que não devia.


Mas creio que pior do que errar, é errar e não conseguir vislumbrar o erro cometido. É apontar que 2 + 2 são 5 e não conseguir enxergar que a coisa tá errada. É falar coisas que não deviam ser ditas (e que não são plenamente verdadeiras) e não admitir que tudo o que se falou tava errado.


As palavras têm poder, de fato. Porém, muito mais poder tem uma única palavra: "Perdão". Não que vá mudar toda a história: Se você agiu errado e tem consciência disso, é preciso ter consciência de que é necessário arcar com as consequências da atitude. Contudo, você pedir perdão é você criar um ambiente de paz consigo mesmo. E se você for perdoado, nunca mais erre com aquela pessoa, afinal, como dizem por aí, "errar é humano, perdoar é divino".


É isso. Vamo que vamo, porque eu não tenho tempo pra alimentar lástimas por aqui, não. Minha alma carece de paz, felicidade e uma boa dose de "se mancol". =)


Carpe Diem^^

domingo, março 07, 2010

Nua e crua.

Tem verdades que a gente não assume. Seja por vergonha, seja pra não demonstrar fraqueza, seja porque caiu no esquecimento, seja por não ser uma verdade tão absoluta... O fato é que tem coisas que a gente não conta.


E eu, logo eu, que me digo tão franca, tão transparente, acabei vendo que faço a fortaleza para o mundo quando, na verdade, sou uma ilha perdida e solitária. Não que eu não seja de fato o tipo de pessoa que mata no peito as patadas que levar. Mas, algumas vezes, a patada é tão repentina e tem uma força tão esmagadora, que não dá nem tempo de pensar em matar no peito: Quando você percebe, já voou longe. E dói. Como dói.


E eu já levei patadas. Já levei altas patadas. Já mandei pastar depois de levar patada. Mas também já disse "eu te amo", mesmo depois de uma patada. E são essas coisas que a gente esconde.


Eu já perdi pessoas por dizer "eu te amo". Eu já perdi pessoas e disse "eu te amo" mesmo após perder. Eu já perdi pessoas por não dizer "eu te amo". Eu já implorei por um "eu te amo". E isso eu jamais imaginei fazer.


Eu já corri atrás, muitas vezes. Eu já quis desistir e não consegui. Eu já pedi pra desistirem de mim. Eu já fiz a filha da mãe para desistirem de mim. Eu já magoei e isso é o maior arrependimento que tenho.


Eu também já fui magoada, muitas vezes. Quem nunca foi? Eu já chorei dias e noites. Eu já acordei chorando, fui trabalhar chorando, voltei pra casa chorando. Eu já sofri. Mas, antes de sofrer tanto, já fiz pessoas sofrerem pela minha indiferença. Só depois percebi o quanto a indiferença dói. E tem gente que ainda não acredita em castigo divino...


Eu já amei. Já fui amada. Já amei sem ser amada e já fui amada sem amar. A gente não escolhe essas coisas. Eu já pedi para ser amada e levei um não. Minto: Eu já levei muitos "nãos". A maioria não me deixou muito abatida, mas os que me abateram, me abateram de jeito. Deixaram marcas.


Eu tenho cicatrizes. Acho que todo mudo tem. É como aquela cicatriz por cair de cima do muro: A gente aprende que não é pra subir ali. Aprende? Mentira! Quantas vezes você caiu da bicicleta e continuou pedalando? Penso que temos uma mania cruel de desafiarmos os sinais que a vida nos dá. A gente pega um caminho cheio de pedras, tropeça e cai. Era pra aprendermos a nos levantar e pegarmos outro caminho. Mas ao pegar outro caminho, a gente acaba escolhendo outro, também cheio de pedras, pensando que, dessa vez você sabe por onde andar e não vai tropeçar. Mas as pedras estão no meio do caminho, no meio do caminho estão as pedras: Uma hora ou outra -tum!- você vai cair. A gente precisava aprender a pegar aquele caminho sem pedras. Mas nosso instinto desafiador quer pegar mais um caminho com pedras e provar que é possível sair imune aos trancos e barrancos. Que Deus nos ajude.


E eu estou sempre escolhendo o caminho mais difícil. Eu faço escolhas erradas e percebo tarde demais. Entre dois caminhos, inconscientemente eu já escolho o mais difícil. E acabo tropeçando, caindo de joelhos, chorando e saindo toda cheia de marcas. A dor acaba passando, mas as marcas ficam ali. E quando escolho, de novo, o caminho cheio de pedras e (de novo), caio, olhos pras marcas do primeiro tombo e me acho estúpida: "Você não aprendeu nada?". Não. Minhas escolhas geralmente são erradas.


Pareço conformada, mas não sou. Estou escrevendo pra desabafar, pra mostrar pro mundo que sei admitir que sou fraca. Pra mostrar pro mundo o quão desonesta eu sou quando faço a fortaleza impenetrável quando, no fundo, eu precisava mesmo de um porto seguro. Eu não sou conformada. Eu não quero mais errar, eu não quero mais pedras, eu não quero mais tombos, eu não quero mais cicatrizes. Basta.


Mas também não vou correr atrás de me redimir comigo mesma de uma vez só. Não quero sorver mudanças de uma talagada única. Quero paz, quero sossego. E o que vier, que venha para o meu bem. Sem preocupações com o futuro, sem sofrimento antecipado. Hoje eu só quero que o dia termine bem.


;)



- Escrevi muito, néam? Eu precisava. Nem precisa ler tudo não. Só precisava escrever. Escrever sempre lavou minha alma. -