domingo, maio 22, 2011

Eduque-se

O depoimento da professora Amanda Gurgel, em audiência pública no Rio Grande do Norte, causou verdadeiro frisson essa semana. Não somente por ser uma mulher, brasileira, nordestina, professora, bem articulada. Mas por expôr publiamente algo que nós (e eu me incluo, sim) fechamos os olhos dia após dia: O descaso do país com a eduação pública.


Eu sou uma cria de escolas particulares. Graças a Deus meus pais puderam me dar o conforto de estudar, desde pequena até a faculdade, em instituições particulares de ensino. A realidade que a Professora Amanda Gurgel jogou na nossa cara não é a minha realidade, mas é a realidade da maior parcela de brasileiros. E aí eu sinto que o problema também é meu.


Sinto que o problema é meu não porque eu seja meio Policarpo Quaresma, brasileira defensora ferrenha de todas as camadas da população. Não sou política em campanha, nunca participei de assembléias de sindicatos de trabalhadores e, para falar a verdade, fico bem irritada quando uma determinada classe de trabalhadores em greve resolve fazer passeata em plena Av. Rio Branco, congestionando o trânsito e me fazendo perder a hora de compromissos.


Mas o problema é seu, é meu, é de todo mundo. Você já teve a curiosidade de, ao invés de praguejar contra todos os sindicalistas do universo quando fica preso em congestionamento por conta de passeatas, tentar saber o motivo das reivindicações? Pois é. Se você, eu e o resto do pessoal tentasse saber isso, a gente não estaria surpreso com o discurso da Professora Amanda Gurgel. Ninguém se surpreenderia com o salário-base do professor do RN no patamar de R$ 930,00. Se você já está fazendo contas e descobrindo que não consegue viver com R$ 930,00, imagina só um professor do Rio de Janeiro, cujo salário-base está na casa dos R$ 760,00 (salvo engano)?


E sabe por que isso vem a ser um problema meu? Primeiro porque não sei como será meu futuro. Não tenho a estabilidade de um emprego público, portanto, vai que um dia eu tenha filhos e não tenha condições de dar a comodidade de um ensino particular a eles? Segundo, por que as pessoas que são diretamente influenciadas por este problemas estão ao seu redor: É a secretária do seu escritório, que falta trabalho para ficar na fila para matricular o filho numa escola pública. É o amiguinho do seu filho, aquele que estuda em escola pública e tem bem menos conhecimento que seu filho, estudante de escola particular. É aquela sua amiga, professora, que nunca tem condições de sair com você, às vezes porque não agüenta o tranco de trabalhar de 7:00 da manhã às 22:oo da noite, outras vezes porque não tem dinheiro.


Mas, além disso tudo, isso é um problema meu porque eu sou cidadã, tenho um título de eleitor que me confere o direito de escolher aqueles que irão me representar politicamente. Acontece que a maior parte da população esquece que o título de eleitor também confere um dever àquele que o possui: O dever de saber escolher aquele que o melhor representa. Não quele com melhores propostas (mais especifiamente, melhores promessas), mas sim aquele que, dentro das possibilidades, acena com um planejamento viável.


Não dá pra fazer milagre. O cara que promete mundos e fundos para se eleger, está obviamente mentindo. Ninguém chega tomando conta do pedaço, resolvendo problemas históricos com uma palavra mágica. Mas é preciso aprender a separar o joio do trigo e saber quem merece credibilidade.


Lamento muito por situações como a da professora Amanda Gurgel e tantos outros brasileiros, principalmente porque sei que a base para uma sociedade, seja ela qual for, é a educação. O que você seria sem seus professores? Provavelmente, sequer saberia ler o que estou escrevendo agora. Sem saber ler, você seria um excluído do mercado de trabalho. E sem trabalho, nesse universo capitalista, você seria mais um indigente nas ruas.


Toda e qualquer sociedade precisa entender que a educação é seu pilar. Para desenvolver a saúde, é preciso que médicos tenham estudado medicina. Para desevolver a segurança, é preciso especialistas que estudem a problemática na sociedade. Para desenvolver a ampliação do mercado de trabalho, é preciso fornecer estudos técnicos. Tudo, sem retrições, depende da educação. E, como disse a Professora Amanda Gurgel, nunca foi dada importância à educação nesse país.


Que o tapa na cara dado pela Professora Amanda Gurgel sirva de alguma coisa. Que todos lembrem desse discurso daqui a uma semana, que não entre para a história, que não seja apenas um discursinho com 15 minutos de fama no YouTube. Que possamos nos compadecer e tentar ajudar. E, por enquanto, a minha arma (e de outros tantos, que estão distantes da realidade da Professora Amanda, mas que querem ajudá-la, de alguma forma) é o voto. E eu, Christiane Leite, não vou jogá-lo fora.


E se eu puder convencer você que estamos fazendo tudo errado, votando nas pessoas erradas e que a gente precisa mudar isso, já é uma grande coisa.

=)