terça-feira, setembro 23, 2008

Indiferença involuntária

Não sei se já comentei por aqui, mas tenho uma memória curtíssima. Não venham psicólogos dizer que tenho "memória seletiva", tenho é falta de memória mesmo. Perda de memória recente.


Aliás, esse lance de memória é engraçado. Minto: A mente humana é engraçada. Sou capaz de lembrar a reclamação de alguém feita numa audiência que fiz há meses atrás só pelo nome da pessoa, mas não sou capaz de reconhecê-la se estiver cara a cara com ela. E isso aconteceu hoje.


Estava esperando minha audiência e veio uma senhora falar comigo. A primeira coisa que ela disse foi "Desculpa". Uma vez que eu não a reconheci, fiz cara de paisagem e não falei nada. Acho que ela entendeu que "quem cala, consente" e que eu havia aceito o pedido de desculpa e começou a se explicar: Disse que "no dia da audiência ela estava nervosa porque a filha dela tava doente, sozinha com a mãe dela,uma senhora idosa" e blá blá blá. Aí que caiu a ficha: Provavelmente ela fez audiência comigo e foi mais uma das clientes que entram com ação contra a empresa que represento que já vão para a audiência com ódio no coração, querendo matar a bucha da advogada. Porém, como eu não havia reconhecido a mesma, eu simplesmente fui involuntariamente indiferente a tudo o que ela dizia.


No início confesso que pensei "Não lembro dela, mas dane-se: Se ela me maltratou a toa, merece essa minha indiferença involuntária". Mas depois fiquei pensando que pedir desculpa é um ato louvável. E que eu deveria lembrar dela daquele momento em diante, porque já dá pra perceber que é humana, sabe que erra e pede perdão. Logicamente, ficou só na intenção: Se você me perguntar como é a criatura, já não lembro mais. Não é por querer, mas a imagem dela já se esvaiu em algum buraco negro da minha mente.


Enfim, não dá pra chorar pelo leite derramado. Já perdi a imagem dela e, provavelmente, se passar por ela na rua, sequer vou olhar como quem pensa "conheço essa pessoa". E ela vai me achar uma nojenta e vai pensar que foi uma boba em pedir desculpa pra uma advogada tão metida.


Coisas da mente humana.

domingo, setembro 21, 2008

2009 urgente

Só esse ano eu perdi meu tio, terminei um namoro de quase 3 anos e, agora, perdi minha avó.


2009, dá pra chegar logo ou tá difícil...?
=(

terça-feira, setembro 16, 2008

Os infelizes

Não. Esse título não é para mim. Eu estou mega-feliz. Mas às vezes sinto-me rodeada de pessoas infelizes. E olha que nem estou falando daquele sujeito que quer te queimar no seu trabalho, nem daquela pessoa que só ocupa o tempo falando balelinha no ouvido alheio, nem daquela criatura insuportável que, por algum motivo, tem que receber sempre um sorriso amarelo cordial. Refiro-me aos infelizes anônimos.


Um exemplo bom é o do post anterior. Quem foi Murphy? Só se sabe que foi um infeliz pessimista que caiu na boca do povo. Entre ficar calada e ser lembrada pelos meus comentários pessimistas acerca do universo (que nem aquela hiena do desenho, a Hardy), eu preferia manter-me calada.


Outro exemplo (e esse é o protagonista desse post) é o infeliz membro do Poder Judiciário que inventou uma coisa chamada pautão.


Para quem não sabe, pautão de audiências é quando um juiz resolve reunir uma
quantidade absurda de ações contra uma mesma empresa e passar o dia todinho
fazendo audiências dessa empresa. Geralmente reunem uma média de 50 a 70
audiências em um só dia, com uma só empresa.




Como vocês já sabem, eu advogo para a Empresa com maior número de ações ajuizadas nos Juizados Especiais Cíveis do Rio de Janeiro (talvez do Brasil). Ou seja, a pauta normal de audiências diárias já é punk. Quando tem pautão, é coisa pra sentar e chorar, afinal, além das audiências "normais" de um dia "normal" dessa empresa, temos a graça de ter mais 60 em um só local. Não é glorioso?


Pois é. O lance é que eu sou a Miss Pautão. Tem pautão, eu estou lá. Na última sexta-feira eu resolvi pesar a mala que levo com as pastas das ações do pautão: 20 Kgs. Não bastasse carregar esse peso, ainda fico revezando entre uma audiência e outra, me virando pra dar conta de todas até, sendo otimista, umas 18:30 hrs. Direto. Almoçar? Você deve estar brincando. Ficar cansada? Quem dera poder me dar a esses luxos.


Aí fico eu cá pensando com meus botões: Isso é moda hoje em dia, a maioria dos Juizados adora um pautão. De fato, o livro "O Menino do Dedo Verde" tem uma frase que diz "a gente se acostuma a tudo, até às coisas mais estranhas". É verdade. Hoje em dia eu até consigo curtir um dia de pautão. Tudo bem. Mas fico imaginando quem foi o infeliz desocupado que inventou esse negócio. O cara ele tem que ter muito saco, tem que ter muito tempo disponível e tem que ganhar muito bem para ter coragem de inventar uma coisa dessas.


Esse é um infeliz anônimo. E é melhor que continue, porque Deus sabe do que sou capaz se um dia descobrir quem é esse infeliz.



terça-feira, setembro 09, 2008

Mais uma da série "Murphy me persegue".

Sabe aquele negócio de "ócio criativo"? Pois é. De tanto se perseguida, acossada e molestada pela famosa Lei de Murphy, resolvi um dia procurar saber quem foi esse infeliz. Edward Murphy foi um engenheiro aeroespacial americano e sua biografia não tem nada de tão interessante, a não ser trazer à baila a infeliz constatação que toda uma Humanidade já sabia, mas que, ao meu ver, não precisava se tornar "Lei".


Mas por quê raios tanto ódio no coração? Porque eu sempre lembro desse infeliz quando as coisas acontecem da pior maneira possível. Como agora: Acabei de chegar à porta de casa, com cinco pastas de audiências nos braços, falando ao celular com o escritório e morrendo de vontade de fazer xixi.


Toquei a campainha. Ninguém em casa. Desliguei celular e passei a procurar a chave na bolsa. Necas. Só consegui encontrar quando as pastas caíram no chão. Lógico que a vontade de fazer xixi só aumentou. E a chave ainda resolveu prender na fechadura. Não pensei duas vezes: Entrei, fiz xixi, depois voltei pra buscar as pastas no chão e desprender a chave (que, óbvio, soltou na maior facilidade).


Às vezes acho que minha vida é tão surreal que parece novela da Record. Definitivamente, Murphy era otimista...

domingo, setembro 07, 2008

O que você vai contar para seus filhos?

Disseram-me que ando muito esquisita. Que não sou mais como antigamente.


Engraçado como meu passado me persegue. Depois de 3 anos de formada, estou trabalhando com 4 pessoas que foram "meus" calouros na faculdade. E aí é um tal de "caramba, eu lembro daquilo que você fez... Não foi você?". E eu fico com aqueeeeele sorriso amarelo e tenho que assumir: É, fui eu.




Fui eu que disse apareci na TV em plena Copa do Mundo pedindo nota 10 para o professor me passar de ano [e consegui].


Fui eu a primeira pessoa na minha faculdade a ser expulsa de sala de aula.



Fui eu que fiquei toda encharcada depois que um amigo despejou um extintor de incêndio [o de água, não aquele químico] em mim.



Fui eu que tentei escalar o telhado da faculdade que nem Gabriela para buscar meu scarpin que meu amigo tinha atirado lá.



Fui eu que chamei uma professora pra "resolver uma parada fora da faculdade". Comigo é [era] assim. =P



Fui eu que troquei de lugar os vasos de plantas da faculdade, que iam parar na sala do coordenador inexplicavelmente, por obra dos espíritos zombeteiros.



Fui eu que, vestida de beca, furtei as provas do último período [essa tá registrada por foto, não tem como negar].



Fui eu que tirei as fotos do convite de formatura de beca e óculos escuros pra disfarçar a olheira de ressaca [eu ainda bebia!].



Fui eu que entrei na sala de aula, peguei uma pauta de presença às aulas e apaguei todas as minhas faltas.



E, entre tanta coisa, fui eu uma das pessoas vítimas de um abaixo-assinado para ser jubilada da faculdade [que, óbvio, não vingou].



Respondendo a pergunta-título do post: Aos meus filhos, contarei somente que fui ótima aluna, que tinha notas maravilhosas [é incrível, mas é verdade], que passei na prova da OAB com nota 10, que meu projeto da pós-graduação também foi nota 10. Um dia eu conto o restante. Eles merecem saber [um dia], o legado que mamãe deixou. Mas só quando estiverem já com o caráter formado. Mamãe não foi um exemplo muuuuuuito bom... ;-)


Enfim, mudei sim. Acontece que depois de alguns anos, um namoro-quase-noivado, um término, alguns empregos, três pós-graduações, noites mal-dormidas, dias mal-aproveitados e uma gama de sentimentos indescritíveis, eu acabei mudando. A vida clama por mudanças, bicho. Uma hora ou outra. E eu só me rendi à elas.





P.S.: Só pra constar: Sair com amigos faz um bem danado pra alma! Chega de sofrimento, né? Depois de um mês, vou vivendo a minha vidinha: Errando, mas com estilo. ;-)