sábado, fevereiro 06, 2010

Ah, o verão...

Eu sempre achei que uma das frases mais inteligentes do marketing brasileiro era essa. "Ah, o verão..." é nostálgico. As reticências remetem a verões passados, à pessoas passadas, à risadas passadas, às histórias para contar.


Todo verão deixa sua marca. Lembra do verão da lata, quando um navio liberou sua carga de várias latas recheadas de maconha nas praias? E do verão do apito, em que se apitava para avisar a galera que fumava seu baseado tranquilamente sobre os policiais fazendo ronda na areia? Teve verão da barriga da Leila Diniz, da tanga do Gabeira, do arrastão e do top less.


Esse verão é o verão da cultura do "politicamente correto".


Esse é o verão em que a água de coco em rente ao mar foi proibido por gerar resíduos na areia. A imagem típica e vendida pelo mundo inteiro de alguém sentado sob uma palmeira, de frente para a praia e bebendo água no coco deverá ser substituída pela embalagem longa vida de água de coco nas mãos. Como se a garrafinha d'água, a embalagem do biscoito, a latinha de cerveja, o palito do picolé e a própria embalagem da água de coco industrializada não gerassem resíduos na areia.


A solução da água de coco é para inglês ver. Proibe-se a água de coco quando, o correto, seria fiscalizar "quem" deixa o lixo na areia. Age-se como se o pobre coco abandonado na areia fosse o pivô de toda a imundice na areia da praia. Detesto ser estraga-prazer, mas o coco não sai correndo da mão de quem o comprou e vai estabelecer-se na areia por vontade própria. Realmente nós somos governados por gente muito esperta.


Esse ainda é o verão em que cogitou-se proibir a venda de mate de galão, após ser verificado que o mesmo era feito com água que, de potável, não tinha nem a intenção. Proibir aquele mate que (talvez pela própria água suja), não tem o mesmo gosto do mate de copinho ou daquele que fazemos em casa.


Vamos combinar: Desde a época da minha avó vendia-se mate da galão na praia. Minha mãe bebeu mate de galão. Eu vou à praia e me entupo de mate de galão misturado com limonada de galão. E não o substituo por qualquer outra bebida (substituiria, em outros verões, por uma água de coco -do próprio coco).


Aí, depois de anos, décadas, depois da virada do século, fazem a grande descoberta: A água com a qual fazem o mate é suja. E, em face disso, querem proibir a venda. Baby, acorda! Alguém achou que o mate era feito com água Perrier? Lógico que não. O lance é tão higienizado quanto os salgadinhos que as senhoras vendem em cestas, quanto o açaí que vendem no copinho, quanto o sanduíche natural e o sacolé de frutas. Querem proibir o mate de galão, mas ninguém faz tanto alarde quando a Vigilância Sanitária reprova um restaurante chique pelas condições anti-higiênicas de sua cozinha.


É o verão do retrocesso. É o verão em que o politicamente correto dominou. Pelo andar da carruagem, em breve aplaudir o pôr do sol vai ser considerado subversivo e a Farme de Amoedo vai deixar de ser "a" Farme de Amoedo. E aí, nada mais de tanga do Gabeira, nem barrigão da Leila Diniz, nem apitos, nem latinhas. E a história termina aqui.




"'Cause we were never being boring
(...)
And we were never holding back or worried that
Time would come to an end."


=)