domingo, setembro 05, 2010

Carta nº 4

Amiga,

Cá estou eu, novamente, respondendo uma de suas cartas. Não sou a pessoa mais indicada para dar conselhos, mesmo porque se conselhos fossem bons, eu faria leilão dos meus. Mas experiência eu tenho de sobra. Então, leia essa carta não como um conselho, mas como se estivesse falando com a "voz da experiência".


Então você conheceu um cara e, desde o início, sabia no que ia dar. Era atração, era um "je ne sais quoi" puramente físico. Você tinha consciência disso e, conscientemente, resolveu que era adulta suficiente para saber separar as coisas e lidar com esse tipo de relacionamento como só os adultos desprendidos fazem.


Acontece que até os adultos erram. E pior: Erram no julgamento de si mesmos. Às vezes os adultos pensam que podem voar, às vezes os adultos pensam que são super heróis e às vezes os adultos se acham adultos demais, sendo que, na maioria das vezes, ainda quem um quê de adolescente.


E é esse quê de adolescente que te fez se apaixonar por quem não devia. Quis transformar em personagem principal alguém que, desde o início, estava fadado (e determinado) a ser figurante. Pode ter sido a atenção despendida, pode ter sido sua carência, pode ter sido mil coisas, não importa. O fato é que, casos tais, as coisas acontecem involuntariamente. Se você pudesse, tenho certeza que jamais escolheria se apaixonar logo por ele. Entre tantos outros caras que você poderia se apaixonar -com sucesso, frise-se- precisava ser logo por ele?


Coração burro! Não dá para evitar, quando você percebe, já foi surpreendida com um sentimento que você nem entende, que vem de um lugar que você não sabe e que surge não sabe porquê.


Se serve de consolo, isso tudo não acontece exclusivamente com você. A maior parte do mundo já se apaixonou e não foi correspondido. É da natureza do ser humano querer atingir o topo do Everest sem ter habilidade para tanto.


Amiga, não se iluda. Se o Titanic está fadado a afundar, por quê continuar ali? Pula, sai dessa, cai fora. Mete o pé enquanto é tempo. É capaz de você se jogar numa água congelante, de você sentir dores pelo corpo, é capaz até de você se afogar. Mas não seja passiva. Não espere se afogar, pense em você. Pense que, fora do navio afundando, você vai ter uma chance maior de se salvar. Além do mais, vai que você pula fora e encontra alguém com um bote salva-vidas te esperando? ;)


É isso, amiga. Você sabia que não ia dar em nada, você julgou ser adulta e encarar um relacionamento assim, você se enganou quanto a si mesma, você se apaixonou. É difícil sair agora, mas é necessário. Abstrai o emocional e seja racional: É melhor sair agora do que quando você estiver amando loucamente.


Não é porque seu coração é burro e se apaixonou que você não é adulta. Você vai mostrar que é adulta quando mostrar ao mundo que sabe ABSTRAIR. Vai doer um pouquinho, como qualquer paixão platônica. Mas você já passou por isso quando adolescente e sabe que "isso também vai passar".


Vou esperar você me escrever, em breve, contando o desfecho disso tudo. Porque a história do Titanic eu já sei de cor. =)


Sua amiga,
Chris

Um comentário:

Dexter Douglas disse...

Querida amiga,
 
Muito obrigado por todas as cartas, você não sabe como elas foram úteis nesse momento, no mínimo, delicado. Minha fonte de força interior sem limites!!

Continue escrevendo! Suas palavras fazem toda a diferença!!

Seu Amigo
Felipe